Por 10 votos a 1, Corte decidiu não aguardar investigação sobre suposta omissão nas delações da J&F. Único a divergir, Gilmar Mendes queria devolver acusação à PGR.
Por Renan Ramalho, G1, Brasília

O Supremo
Tribunal Federal (STF) rejeitou nesta quinta-feira (21) suspender o envio, à
Câmara dos Deputados, da nova denúncia contra o presidente Michel Temerapresentada
pela Procuradoria Geral da República.
Com a decisão,
a acusação deve ser encaminhada ao Legislativo já nos próximos dias, dependendo
somente de trâmites formais.
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Leia também: Rodrigo Maia diz que nova denúncia contra Temer deve ser votada em
outubro na Câmara
Temer foi
denunciado na semana passada pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça. Mas o
STF só poderá analisar a acusação se a Câmara autorizar.
A defesa do
presidente, contudo, havia pedido que a denúncia fosse remetida à Câmara somente após a conclusão das investigações sobre
se os delatores da J&F omitiram informações dos investigadores. Provas
entregues pelos delatores compõem a denúncia.
Mas, ao
analisar o pedido da defesa, por 10 votos a 1, a maioria dos ministros do STF
negou suspender o envio da acusação.
Votaram
pelo envio imediato da denúncia:
·
Edson Fachin (relator)
·
Alexandre de
Moraes
·
Luís Roberto
Barroso
·
Rosa Weber
·
Luiz Fux
·
Dias Toffoli
·
Ricardo
Lewandowski
·
Marco Aurélio
Mello
·
Celso de Mello
·
Cármen Lúcia.
O
único a divergir foi:
·
Gilmar Mendes
Ele ainda votou
para a Corte devolver a denúncia à PGR (leia detalhes mais abaixo),
como quer a defesa de Temer.
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Imagem mostra o presidente Michel Temer (Foto: Leonardo Benassatto/Reuters)
Envio da denúncia
A Constituição
determina que denúncias por crimes comuns contra o presidente da República só
podem ser analisadas pelo Judiciário com prévia autorização da Câmara.
Para essa
autorização, são necessários votos favoráveis de, no mínimo, 2/3 dos deputados
federais, ou seja, 342 dos 513.
A defesa de
Temer queria adiar o envio da denúncia à Câmara, apontando suspeitas de que a
delação dos executivos da J&F teve orientação do ex-procurador Marcello Miller, quando
ele ainda trabalhava na PGR.
O advogado
Antônio Cláudio Mariz de Oliveira sustenta que essa ajuda invalidaria,
inclusive, a gravação de uma conversa entre Temer e Joesley Batista, sócio da
J&F, uma das bases da denúncia.
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Imagem mostra os ministros do STF reunidos no plenário para discutir o pedido da defesa de Temer sobre a denúncia da PGR (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)
Votos
A maioria dos
ministros, porém, considerou que a eventual revisão da delação da J&F não
afeta a condição de terceiros – os acusados, por exemplo.
Eles também
seguiram o entendimento de Edson Fachin, relator da denúncia, de que a validade
das provas só poderá ser analisada posteriormente, quando e se o STF for
autorizado pela Câmara a analisar a denúncia.
O que disse
Fachin:
"Não cabe a essa Suprema Corte proferir juízo
de admissibilidade sobre a denúncia antes do exame da autorização pela Câmara.
Não cabe proferir juízo antecipado a respeito de eventuais teses
defensivas."
Luiz Fux também
observou, ao proferir o voto:
Trata-se de denúncia grave, principalmente porque
se refere ao chefe máximo de nossa nação. Nem por isso compete a nós deixar de
observar o devido processo legal. O momento é de aguardar o juízo político que
antecede o juízo jurídico."
Único a
divergir, Gilmar Mendes votou para devolver a denúncia à PGR, sob o argumento
que a acusação contém fatos anteriores ao mandato do presidente, o que
inviabiliza o prosseguimento da peça à Câmara.
Ele também
atacou a validade da delação da J&F, apontando diversos fatos que apontam
para a ajuda de Miller aos delatores.
"Certamente já ouvimos falar de procuradores
preguiçosos, violentos, alcoólatras, mas não de procuradores ladrões. É disso
que se cuida aqui, corruptos, num processo de investigação. Essa pecha a
Procuradoria não merecia ao fazer investigação."
Na sessão desta
quinta, a maioria dos ministros também rejeitou o pedido de Temer para devolver
a denúncia à PGR. Para eles, a questão perdeu o objeto com a decisão de enviar
à Câmara a acusação.
A remessa do
documento caberá formalmente à presidente do STF, Cármen Lúcia. Segundo sua
assessoria, ela deverá despachar sobre o caso “o quanto antes”.
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Imagem mostra a nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge (Foto: Carlos Moura/SCO/STF)
Nova procuradora-geral
Durante a
sessão desta quarta (20), a recém-empossada procuradora-geral da República,
Raquel Dodge, não se manifestou oralmente sobre os pedidos de Temer, já que a
PGR já havia falado no julgamento, em favor do envio da denúncia.
Ela, no
entanto, enviou memoriais aos ministros reiterando a posição do órgão de não
suspender a remessa da denúncia à Câmara.
"A Constituição é rigorosa: as etapas e
instâncias de decisão estão bem delineadas na fase pré-processual. Não há
lugar, portanto, para impugnar a viabilidade da denúncia fora desse rito
constitucional, antes da decisão da Câmara dos Deputados."
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